Se você já sabe o que significa gamificação, deve ter acompanhado a questão terminológica que gerou discussão neste terreno no Brasil: a tradução da expressão para o idioma nacional. Muitos na mídia brasileira já têm usado o termo no seu original em inglês, gamification. Para dar uma identidade brasileira ao conceito, alguns passaram a se referir ao processo mantendo o sufixo do original, mas adotando a terminação de substantivo no português: gamificação. Enquanto alguns poucos outros, também na mesma tendência, preferiram manter o processo gramático padrão (ou seja, “correto”) do português brasileiro, trocando o ‘i’ por ‘e’: gameficação.
A tal questão terminológica apresentou uma nova tradução pro termo original: ludificação. A querela se originou com a modificação da entrada no Wikipedia, direcionando a pesquisa pelo termo de maior ocorrência, Gamificação, para a nova entrada, Ludificação. o artigo orienta que o termo “gamificação” é um barbarismo que deve ser evitado. E prega que o termo “ludificação” faz alusão correta à ideia de jogos, já que usa o substantivo masculino “ludo” como prefixo.
No português, usamos ‘ludo’ pra nos referirmos a jogo (sem ser o próprio jogo) com uma frequência insignificante. O mais comumente usado é o adjetivo que deriva dele. Por exemplo aquela justificativa do uso de barras de chocolate pra ensinar fração na sala de aula: atividade lúdica, né? Usando o português falado, /gueimificação/ seria a pronúncia tanto pra “gameficação” quanto pra “gamificação”. Da mesma forma que se pronuncia /futibol/ ao invés da forma correta, com ‘e’.
Gamification é não só um conceito novo como uma palavra emprestada de outra língua. Essa problemática sobre o “termo adequado” é questionável em um ambiente onde as pessoas comumente shaream, fazem uploads e dão likes a todo momento. Manter o preciosismo é uma forma desnecessária de defender a língua portuguesa, já que é impossível impedir que o termo adquira traços do português (o verbo sharear, por exemplo: share + ar) ao ser pronunciada e usada por seus falantes. Aliás, nós.