Há quase uma década, eu me certificava PMP junto ao PMI e decretava que aquela paixão pela gestão de projetos faria parte da minha carreira profissional. Carreira esta dedicada à tecnologia, outra paixão, mais especificamente em plataformas móveis e web. E nos últimos anos comecei a sentir um incômodo na minha atuação profissional, como aquela pontada repentina que rapidamente você vai descobrir que é uma apendicite das mais brabas!
Façamos uma viagem no tempo. Não acho que precisemos programar o DeLorean para voltar até os gerentes de projetos que comandaram a execução das pirâmides do Egito, ou da muralha da China ou ainda do canal do Panamá. Vou dar um pulinho logo ali, quando comecei mina pós-graduação em Gestão de Projetos em 2003: estávamos desenvolvendo o primeiro celular com tela colorida, e um ano depois lançaríamos um dos gadgets mais cobiçados no mundo da tecnologia, o Motorola V3. E nem preciso contar a evolução de lá para cá: basta olharmos para obras de engenharia e design, como os mais recentes equipamentos de empresas como Apple ou Samsung.
E comecei a olhar para a gestão de projetos e o que ela evoluiu de lá para cá. Será que acompanhou a grande transformação pela qual passamos? Talvez a consolidação do Agile como metodologia de desenvolvimento tenha sido algo a se mencionar. Causou um transtorno que até hoje confunde a nós, gerentes de projeto. Cito como exemplo uma das metodologias, o Scrum. Até hoje ainda não se sabe muito bem quais são os papéis e responsabilidades do gerente de projetos e da nova figura do scrum master. Reuniões semanais de status de projeto passaram a ser complementadas com reuniões diárias, em pé, sobre como anda a saúde do mesmo. Respondendo de forma quase que real time a perguntas como “o que fizemos de ontem para hoje”, “o que vamos fazer hoje” e “algo nos impede de progredir no que vamos fazer hoje” ditaram o ritmo da execução dos projetos. Eis então que tirei a minha primeira conclusão:
Cada vez mais uma nova geração tomava conta da massa crítica dos projetos e se encantava com este modo de operação. Uma geração muito prática e muito ágil encontrando o seu modo de trabalhar.
E, rapidamente, consegui chegar a uma segunda conclusão:
Ao mesmo tempo em que encontrávamos uma readequação dos processos de desenvolvimento, outros sistemas de gestão fundamentais, como o de recompensa e feedback, ainda estavam presos a uma estrutura incompatível com o que encantava a nova geração.
Ora, estávamos todos ali reunidos diariamente para conversar sobre o projeto, mas pouco se falava sobre o desempenho das pessoas em suas tarefas. Combinaríamos que a cada seis meses ou um ano nos reuniríamos, analisaríamos alguns feedbacks distantes e decidiríamos se sua participação no projeto teria sido a contento ou não. E também ali faltava uma pitada de diversão, um ambiente mais descontraído do que aqueles que nos remetiam a uma linha de produção fordista.
Eu estava muito mais próximo, então, de entender a causa raiz deste incômodo que me afligia profissionalmente: conhecer melhor a nova geração que estávamos liderando e o que as motivava a se engajar em nossos projetos. E nesta busca por respostas apareceu a gamificação. Estávamos gerenciando a mesma geração que investe 3.000.000.000 de horas por semana jogando, vencendo obstáculos (desnecessários) que lhes são oferecidos, sendo recompensados de forma correta e, acima de tudo, se divertindo. E eram as mesmas pessoas que acordavam de manhã, iniciavam suas jornadas nos projetos e encontravam um mundo completamente diferente. Ainda que tivessem os desafios, muitas vezes estes não eram tão claros quanto nos jogos que elas jogavam, não eram nem de perto tão recompensadores e, muito menos, divertidos.
Eis então o desafio posto a prova. Gamificar a gestão de projetos. Gamificar as metodologias ágeis. Gamificar o Scrum, seus ritos e procedimentos. Criar uma forma lúdica e divertida para planejar e executar os projetos. Missões, desafios, níveis. Fugir de zumbis, ou enfrentá-los. Colocar um “chefão” para o time vencer.
E que você, caro gerente de projetos, corra, se atualize, para não ser nem o zumbi e nem o chefão a ser vencido, porque a galera não vai perdoar.