Entre as 500 maiores empresas da Fortune, a maior reclamação dos líderes é o engajamento – ou a falta de – entre os funcionários. A grande dificuldade em manter o comprometimento da equipe é porque as pessoas estão condicionadas a simplesmente a “ir levando” o trabalho. Infelizmente este comportamento é adquirido ainda enquanto estudantes, no sistema educacional.
Ainda antes de começarem a trabalhar os funcionários, como estudantes, foram ensinados a não se engajarem. Eles se tornam máquinas de decorar, aprendem a ordenar fatos e figuras na memória para tirar boas notas nas provas. Raramente têm a chance de explorar interesses ou perseguir assuntos pelos quais tem paixão.
Para o bem da produtividade nas empresas – e para o bem destas mentes jovens e curiosas – as coisas precisam mudar. As empresas não podem mais ter funcionários que apenas executam sem propósito, sem paixão. Infelizmente este engajamento não pode ser desenvolvido em treinamentos, ele precisa fazer parte da cultura destas pessoas. E isto começa na educação.
A boa notícia é que as crianças já tem este engajamento naturalmente. Elas são extremamente curiosas, mesmo na adolescência. É só observar uma criança jogando video game ou se comunicando nas redes sociais. Investem horas tentando superar um nível em um game ou pulando de site em site perseguindo uma informação importante (para elas). Algumas vezes as crianças se demonstram tão curiosas e engajadas com assuntos aparentemente banais (para nós) que ficamos surpresos com o conhecimento delas no assunto, pense em Harry Potter por exemplo.
Quebrando o ciclo da falta de engajamento
As escolas podem direcionar esta curiosidade para rumos mais produtivos. Elas podem negar o modelo clássico de sala de aula desenhado para produzir funcionários obedientes. Modelo este, onde estudantes sentados em silêncio e alinhados são preparados para apenas duas funções: funcionário de linha de montagem (decorar tarefas e seguir instruções) ou professor.
Precisamos implantar um novo modelo no sistema educacional. Um modelo pensado para fomentar todos os tipos de instituição desesperadas por cientistas, advogados, pesquisadores, gerentes, pessoas que não temem assumir riscos e falhar, que queiram mergulhar inteiramente em suas funções, que esperam ser desafiadas a resolver problemas.
Não é uma tarefa fácil. Mudar o modelo demanda muito tempo e esforço. Mas existe um ator em toda escola por onde podemos começar imediatamente esta mudança: os professores criativos e dedicados. As pessoas não viram professores por causa do salário ou pelo glamour da profissão. Elas seguem essa carreira porque tem um desejo muito claro de ajudar as crianças a aprender e a crescer, mais que isso, elas procuram despertar o engajamento nos alunos com qualquer assunto.
Para isso os professores precisam se livrar da tirania de testes e programas determinados. Se dermos um pouquinho mais de liberdade eles podem não mais ensinar a Renascença como se fossem uma lista de nomes e datas, eles podem utilizar um game para ensinar história e fazer os alunos vivenciarem o Renascimento por eles mesmos. Quando engajados, os estudantes se tornam máquinas de aprender ao invés de memorizar.
Mudança
Os líderes mais talentosos e atualizados sabem da necessidade de se quebrar este ciclo. Eles não querem mais uma equipe formada de pessoas que apenas executem – mesmo que elas sejam brilhantes. Estão procurando funcionários que procuram ser disruptivos, que desejam desafiar o status quo e assumir riscos para encontrar uma grande ideia. E estes líderes sabem que achar pessoas assim é bem difícil.
Por isso as empresas precisam apoiar a necessidade de se mudar a educação e as escolas. Assim como elas já estão eliminando o controle e a hierarquia para aumentar o engajamento de seus funcionários, elas precisam ajudar as escolas a mudar este modelo onde os professores são os “produtores de tarefas” e os alunos são os “fazedores de tarefas”.
Criar um modelo educacional mais participativo e focado no interesse dos alunos irá beneficiar estudantes, empresas e funcionários. Teremos muito mais pessoas engajadas não apenas com a empresa, mas com seu próprio propósito.
Marcel Leal é designer, criativo e ilustrador. Hoje fala sobre gamificação, marketing e design para quem quiser ouvir.