Esta semana um artigo do Geraldo Seabra no WebInsider sobre um projeto do GreenPeace, o EfficienCity, me chamou a atenção: como é que uma organização acostumada a protestos incisivos e conflitos internacionais, muitas vezes colocando em risco a vida de seus congregados, resolve fazer uma plataforma-protesto, com cara de joguinho, para chamar a atenção para sua causa?
O projeto do Greenpeace é sobre energia sustentável e descentralizada, no site do projeto você consegue todas as informações, não é o propósito aqui. O que chamo a atenção é que já sabemos que os games são levados a sério (já ganha da indústria de cinema faz tempo), mas poucos se aventuram neste universo para gerar algum impacto social e transformador – e eles geram, acredite!
No caso do EficienCity, não existe um storyline a ser seguido (faça isso para ganhar aquilo e acontecer aquilo outro) como um game convencional. Aqui apenas a plataforma é lúdica, gamificada, todas as interações são baseadas em notícias reais. A cidade virtual reage, atualiza, evolui de acordo com os acontecimentos de um país que retroalimenta a cidade: quanto mais a cidadezinha evolui, mais o país fica motivado para evoluir. Aí a melhoria reflete na cidadezinha (via notícias reais) que motiva o país, que evolui e reflete na cidadezinha… ah, você já entendeu!
Aí a gente começa a lembrar de exemplos que poderiam ter dado certo também. Lembram do barulho que foi o Globo Amazônia? Era uma plataforma onde as pessoas denunciavam queimadas num mapa e as informações ficavam disponíveis para as autoridades tomarem alguma ação. A ideia era ótima, poderia era já ter saído do finado orkut e pensar um pouco melhor na mecânica, gamificando para engajar mais e melhor a população. Mas foi parar no limbo. Mesmo com o apoio da emissora, o portal (ao menos) não é atualizado desde 2011.
Na mesma linha, também desatualizado (aparentemente) e com os mesmos problemas (uma justificativa é ter sido uma iniciativa de várias frentes da sociedade), o Fogo no Barraco poderia também engajar mais as pessoas deixando a coisa toda mais lúdica.
Voltando ao texto do Geraldo, ele cita a tragédia de Santa Maria como uma oportunidade para pensarmos em algo. Não podemos pensar em um game onde a garotada dá o checkin, vota na segurança do local e possa denunciar quando achar alguma irregularidade nas boates?
Os problemas são sérios. A solução é que pode ser divertida.
Marcel Leal é designer, criativo e ilustrador. Hoje fala sobre gamificação, marketing e design para quem quiser ouvir.